Gestão Financeira

Como sair das dívidas e recuperar sua saúde financeira

Publicado em . Atualizado em
Por João Vitor Possamai . Tempo de leitura: 15 mins
Mulher concentrada revisando documentos financeiros e faturas, exemplificando como sair das dívidas de maneira eficaz.

Saber como sair das dívidas e organizar a vida financeira exige planejamento e disciplina, mas não é uma tarefa impossível. 

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que o número de famílias brasileiras endividadas atingiu, em maio de 2024, o maior nível desde novembro de 2022, com 78,8%. Dados como esses sinalizam a necessidade urgente de ações mais assertivas para lidar com o endividamento. 

Com determinação e as orientações certas, é possível retomar o controle das finanças e alcançar estabilidade financeira. Continue a leitura para descobrir 11 dicas práticas e certeiras para sair do vermelho o quanto antes!

Por que é importante saber como sair das dívidas?

Sair das dívidas permite que você assuma o controle das finanças e tenha liberdade financeira.

É importante ressaltar que estar endividado costuma gerar um estresse emocional significativo, podendo prejudicar o relacionamento com familiares e amigos. Portanto, se livrar desses débitos contribui para um bem-estar geral e uma maior qualidade de vida. 

Além disso, o acúmulo de dívidas pode limitar as oportunidades de investimento e dificultar a obtenção de crédito em situações emergenciais. 

Afinal, a quitação de dívidas melhora o histórico de crédito, aumentando o score ao longo do tempo. Portanto, se você está planejando financiar uma casa, por exemplo, essa pontuação é essencial para conseguir melhores condições de financiamento.

Lembre-se também que o não pagamento de dívidas pode gerar bloqueio de contas e de bens materiais para a quitação da cobrança.

Como sair das suas dívidas rápido? 11 passos na prática

Se você deseja saber como sair de uma bola de neve de dívidas e quer retomar o controle da sua vida financeira, confira 11 passos para colocar em prática:

1. Anote todas as dívidas

Ter uma lista detalhada de todas as dívidas é o primeiro passo para colocar as finanças em ordem. Nessa lista, inclua o valor total, a taxa de juros, a data de vencimento e o nome do credor. 

Organize também as dívidas em ordem de prioridade, seja pelo valor, pela taxa de juros ou pela urgência do pagamento. 

Essa visão completa da sua situação financeira é crucial para criar um plano de ação assertivo. Além do mais, ter essa clareza proporciona segurança para tomar decisões estratégicas sobre onde concentrar seus esforços iniciais.

2. Crie um orçamento mensal

Estabelecer um orçamento mensal que considere todas as suas despesas e receitas é uma etapa primordial para sair das dívidas. É simples: o orçamento deve incluir todas as fontes de renda, bem como todas as despesas fixas e variáveis

O objetivo é identificar para onde está indo seu dinheiro e encontrar áreas onde você pode cortar gastos. Assim, você terá um orçamento detalhado, além de ver claramente quanto dinheiro pode ser direcionado para o pagamento das dívidas a cada mês.

Dica importante: a utilização de planilhas de controle financeiro e aplicativos de gestão podem ser muito úteis nesse processo. 

Imagem mostra a diferença entre despesas fixas e despesas variáveis.

3. Monte um plano de pagamento com metas

Com o orçamento definido de acordo com sua situação financeira atual, é preciso criar um plano de pagamento com metas. Nessa etapa, é fundamental definir metas realistas para o pagamento de dívidas.

Por exemplo, não se comprometa com parcelas mensais que você não consegue honrar. Um plano inteligente é aquele que condiz com a sua realidade financeira. 

Quanto ao orçamento mensal, estabeleça um limite de gastos e uma meta de investimento mensal. Já em relação a quitação das dívidas, estabeleça um cronograma de pagamentos e siga-o rigorosamente. 

Quando as metas são específicas e mensuráveis, você mantém o foco e permanece em constante monitoramento do seu progresso. 

Existem dois métodos muito comuns para definir metas de pagamento de dívidas:

  • Método bola de neve: onde se paga primeiro as menores dívidas para ganhar motivação e prosseguir com mais ânimo. 
  • Método avalanche: consiste em pagar primeiro as dívidas com os juros mais altos para economizar dinheiro a longo prazo. 

Escolha o que mais se adequa à sua realidade. 

Imagem mostra a diferença entre o método avalanche e o método bola de neve.

4. Cortes gastos desnecessários e defina prioridades

Sem controle financeiro, quitar as dívidas se torna uma tarefa muito difícil. Portanto, analise as suas despesas e elimine gastos supérfluos. Nesse contexto, é crucial direcionar os recursos economizados apenas para o pagamento das dívidas. 

Se necessário, coloque as suas contas em débito automático para evitar atrasos e juros. 

Além disso, identifique suas necessidades básicas e concentre-se em reduzir ou eliminar despesas não essenciais, como refeições fora de casa, assinaturas de serviços que você não usa e compras por impulso.

Não esqueça que a definição de prioridades te auxilia a manter o foco nos objetivos financeiros. 

5. Reduza os cartões de crédito

O mau uso do cartão de crédito pode fazer ele se tornar o grande vilão das suas finanças. Por isso, limite o uso para evitar acumular mais dívidas. 

Ter muitos cartões pode dificultar o gerenciamento, então busque concentrar tudo em um só. Considere também cancelar cartões que não são essenciais ou consolidar os saldos em um cartão com uma taxa de juros mais baixa.

É essencial pagar sempre o valor total da fatura para evitar mais juros, que por sinal costumam ser os mais caros do mercado.

A prática do parcelamento pode ser tentadora, mas evite-a nesse momento. Reduzir a dependência de crédito pode ajudar a evitar o ciclo vicioso do endividamento.

6. Renegocie as dívidas

A renegociação de dívidas pode ser uma grande aliada para sair do vermelho. Isso porque é uma excelente maneira de conseguir taxas e juros menores. 

Portanto, entre em contato com seus credores para tentar renegociar os termos das suas dívidas.  Explique sua situação financeira, e peça uma redução nas taxas de juros, prazos mais longos ou descontos para pagamento à vista

Muitos credores estão dispostos a negociar para garantir que recebam algum pagamento em vez de nada. No entanto, tenha cautela durante o processo e avalie a proposta oferecida de forma cuidadosa.

7. Aproveite os mutirões de negociação

Os mutirões de renegociação de dívidas são muito úteis para conseguir condições mais favoráveis e quitar seus débitos. 

Essas iniciativas geralmente oferecem descontos significativos, taxas de juros reduzidas e prazos de pagamento mais longos. Fique atento às datas e aproveite essas oportunidades para aliviar a carga financeira.

Além dos bancos, algumas empresas de recuperação de crédito também promovem mutirões, como o Feirão Limpa Nome do Serasa, que ocorre online durante todo o ano.

8. Busque fontes de renda extra

Além do corte de gastos, considere fazer atividades adicionais que possam gerar renda extra, como trabalhos freelancer, venda de itens que você não utiliza mais, venda de doces ou até mesmo um segundo emprego temporário. 

Dessa forma, é possível utilizar essa renda adicional para abater suas dívidas mais rápido. Parece pouco, mas cada pequena quantia extra pode fazer uma diferença significativa no seu progresso em direção à quitação das dívidas.

Esse caminho é uma alternativa útil para aqueles que não estão conseguindo quitar as dívidas só com o corte de gastos desnecessários. 

9. Consulte seu score de crédito regularmente

Acompanhe seu score de crédito para entender como suas ações estão impactando sua reputação financeira. Manter um bom score de crédito pode facilitar a obtenção de melhores condições de pagamento e juros mais baixos no futuro. 

Além disso, verificar regularmente seu score pode ajudá-lo a detectar e corrigir quaisquer erros que possam estar prejudicando sua pontuação. Assim, é possível ser ágil e evitar surpresas no seu plano de pagamento para quitar as dívidas.

10. Converse com seus familiares

É crucial envolver a família no processo de reorganização financeira, pois é um esforço coletivo. Explique a situação e peça colaboração para evitar gastos desnecessários. 

Ter o apoio e a compreensão da família contribui para o sucesso do seu plano de pagamento. Juntos, vocês podem estabelecer metas financeiras comuns e trabalhar em equipe para alcançá-las. Assim, fica muito mais fácil atingir os objetivos financeiros. 

11. Não crie novas dívidas

Pode parecer óbvio, mas é imprescindível evitar contrair novas dívidas enquanto trabalha para pagar as antigas. Quando uma pessoa se encontra endividada, é muito fácil perder o controle e contrair mais débitos. 

Nesse contexto, muitos utilizam o cartão de crédito ou cheque especial para quitar as dívidas. No entanto, esse hábito pode se tornar vicioso e acabar gerando novos débitos em atraso.

Dê preferência para o uso do dinheiro em vez de crédito sempre que possível para manter suas finanças sob controle e evitar aumentar o endividamento. 

Adote um estilo de vida mais equilibrado e desenvolva hábitos financeiros saudáveis. Dessa forma, as chances de cair novamente em uma situação de endividamento reduzem bastante.

Como quitar dívidas de uma empresa?

Se você tem uma empresa e também deseja saber como sair das dívidas rapidamente, é possível traçar um plano para melhorar a saúde financeira do negócio:

  • Identifique as causas do problema: o que ocasionou as dívidas nos últimos meses/anos? Sabendo isso, há como identificar furos e encontrar as possíveis soluções;
  • Faça uma avaliação financeira: identifique todas as dívidas, taxas de juros, prazos e credores, além de avaliar o fluxo de caixa. Dessa forma, o empreendedor pode visualizar setores com gastos desnecessários. Sem essas informações, não há como tomar decisões estratégicas;
  • Reduza custos com fornecedores: otimize processos para reduzir custos e negocie melhores ofertas com os fornecedores. Ter um bom relacionamento pode auxiliar na melhoria de preços, prazos e condições de pagamento;
  • Renegocie as dívidas: negocie prazos, taxas de juros ou condições de pagamento. Em caso de empresas, também é importante pagar primeiro as dívidas com juros mais altos. Em algumas situações, considerar consolidar as dívidas em um único empréstimo pode ser vantajoso;
  • Contrate um profissional: se a situação for muito crítica, contrate um consultor financeiro ou contador especializado para auxiliar na recuperação;
  • Tenha uma conta PJ: desde a abertura da empresa, é fundamental ter uma conta PJ. Caso ainda não tenha uma, opte por abri-la agora. Separar as contas pessoais das empresariais é um passo crucial para evitar confusão nas finanças e, consequentemente, gerar dívidas.
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FAQ

Como pagar muitas dívidas com pouco dinheiro?

É possível pagar muitas dívidas com pouco dinheiro. Se você está com muitas dívidas e não tem como pagar, ou quer saber como sair das dívidas ganhando pouco, siga todas as dicas já citadas acima e tenha disciplina. 

Apesar de parecer desafiador, não desista! A chave é organização, força de vontade e planejamento financeiro

Quais dívidas devem ser pagas primeiro?

Comece priorizando aquelas com as taxas de juros mais altas, como cartões de crédito e empréstimos pessoais. Além disso, concentre-se nas dívidas que podem resultar em consequências graves, como a perda de bens garantidos, corte de serviços essenciais (ex.: água e luz) ou danos ao seu crédito. 

Se houver dívidas com vencimento próximo ou já em atraso, pague-as imediatamente para evitar taxas e multas adicionais.

Posso usar o FGTS para pagar dívidas?

Após o saque, o dinheiro do FGTS pode ser usado livremente, portanto, você pode optar por utilizar esses fundos para quitar dívidas pessoais. 

Já no uso direto, o FGTS não pode ser utilizado diretamente para quitar dívidas que não estejam relacionadas ao financiamento habitacional. Isso significa que você não pode pagar dívidas de cartão de crédito ou empréstimos pessoais diretamente com o FGTS sem primeiro sacá-lo.

Posso pegar empréstimo para sair das dívidas?

Se a sua conta de receitas e gastos não está fechando mais e o endividamento se torna irreversível, o empréstimo pode ser uma solução. Contudo, é preciso avaliar se a alternativa é de fato a melhor para a sua situação. 

Existem diversas opções no mercado e tudo irá depender das taxas de juros cobradas. 

Se os juros do empréstimo forem mais baixos do que os das suas dívidas atuais, usar esse recurso para quitá-las pode ser uma boa ideia. Essa opção se torna vantajosa se você tiver múltiplas despesas, pois irá consolidá-las em uma única dívida com juros menores.

Vale a pena deixar a dívida caducar?

A principal vantagem de permitir que a dívida prescreva é a possibilidade de remover o nome dos registros do SPC e do Serasa. No entanto, as restrições de crédito ainda permanecem registradas no banco de dados do Banco Central, o que pode acarretar desvantagens significativas.

Uma dívida com mais de 5 anos, mesmo que esteja prescrita, ainda pode ser cobrada de forma informal. Durante o período em que a dívida permanece não paga, ela continua a crescer diariamente com acréscimos de multas e juros. 

Assim, o consumidor continuará enfrentando cobranças para o pagamento de um valor que aumenta constantemente. Diante disso, é mais aconselhável negociar diretamente com o credor e explorar outras alternativas, como programas de renegociação de dívidas.

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Escrito por

João Vitor Possamai

Diretor Financeiro do Asaas. Formado em Finanças e Contabilidade pela New York University (NYU), possui mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro. Atuava como diretor no CPP Investments, maior fundo de pensão canadense, com quase 500 bilhões de dólares sob gestão. Já teve passagem pelo Macquarie, em Nova York, e pelo HSBC, em São Paulo.

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